RIO – Tenório Cavalcanti, o rei da Baixada Fluminense, deputado estadual e federal desde 1947, sempre pela UDN, foi candidato a governador da Guanabara em 1960 pelo PST, contra Carlos Lacerda da UDN e Sergio Magalhães do PTB-PSB.
Era uma jogada pouco sutil, estimulada pelo gaucho João Goulart, que não queria ver surgir no Rio uma forte liderança trabalhista do irmão de Agamenon Magalhães. Os 200 mil votos populares de Tenório, tirados do petebista Sergio Magalhães, deram a vitoria a Lacerda por 20 mil votos.
Na campanha, Tenório foi fazer comício em Acari, uma das mais miseráveis favelas do Rio.Chovia muito, ficou na porta do cinema. Quando a sessão acabou, Tenório subiu numa caminhonete e pegou o microfone:
- Povo de Acari. Vim aqui hoje porque tive um sonho ontem com vocês. Morri e fui para o céu.
TENORIO
- Quando São Pedro me viu chegar no céu, me chamou:
- Tenório, o que é que você está fazendo por aqui?. - Decidi morrer, São Pedro. Há muitos anos luto por meu povo. Estou cansado de enfrentar os poderosos, os ricos, e o povo cada vez mais pobre. A cruz que eu carrego é uma cruz muito grande.
Mas São Pedro não concordou :
- Você ainda não pode morrer, Tenório. Reconheço que sua cruz é muito grande. Vá à sala das cruzes e troque a sua por outra menor.
Fui lá, vi muitas cruzes e uma enorme, que tomava a sala toda. Peguei uma pequena para mim, voltei a São Pedro:
- Que cruz enorme é aquela que há lá?
- É a cruz do povo de Acari.
Pois é, povo de Acari. É por isso que estou aqui. Para ajudar o povo de Acari a carregar sua cruz, que é muito grande.
O povo ficou
MEIRA FILHO
Uns sonham já no céu. Outros, com amigos no céu. Paraibano de Taperoá (1922), Meira Filho foi locutor de sucesso nas rádios Nacional, Globo, Tupi, Jornal do Brasil e outras do Rio, nas décadas de 40 e 50.
Em 1956 reafirmou seu talento criando com Cesar Ladeira a Rádio Relógio do Distrito Federal. Pioneiro do radio em Brasília, foi ele quem anunciou a criação da nova capital. Em 1986, elegeu-se senador pelo PMDB e ficou muito amigo de Paes de Andrade, presidente do partido.
Meira e Paes faziam a barba com o mesmo barbeiro. No fim do ano passado, Meira perguntou ao barbeiro por Paes e lhe mandou um abraço. Saia da barbearia, passou mal, foi parar numa UTI do hospital Santa Lucia. Na UTI ao lado, estava internado, já há dias, exatamente Paes de Andrade.
UTI
Nenhum sabia do outro. De manhã, Paes, já melhor, ouviu uma movimentação na UTI do lado. Perguntou ao enfermeiro quem estava lá.
- O senador Meira Filho.
- Vou lá. Vou dar um abraço em meu amigo.
- Deputado, o senhor não pode falar com o senador.
- Não posso por que? Chame meu medico.
- Deputado, o senador não vai falar com o senhor.
- Por que não vai? Como é que você sabe? É de sua conta?
- Deputado, o senhor não vai falar com ele porque o senador morreu.
LULA
Paes de Andrade ficou muito triste. Ante-ontem, Paes sonhou com Meira Filho, lá no céu, chamando-o :
- Paes, estou com muita saudade de você. Não só eu, mas muitos amigos nossos que estão aqui. Venha para cá, Paes. Venha ficar conosco.
Paes acordou do pesadelo aos berros :
- Não vou não, Meira! Não vou de jeito nenhum!
Paes de Andrade está tão indignado com a desfeita que o presidente Lula lhe fez, e também a Itamar Franco e Tilden Santiago, dizendo-se arrependido de haver “nomeado três derrotados para as embaixadas de Lisboa, Roma e Havana”, que se Lula chamar Paes ao Planalto ele não vai.
Entre Lula vivo e Meira morto, acho que Paes prefere atender a Meira.
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